Este projeto tem por objetivo fazer um mapeamento sobre os desafios para a implementação da CID-11, identificando barreiras e facilitadores de seu emprego que possam subsidiar ações para o melhor uso da CID-11 no território nacional.
Barreiras e facilitadores para usos da Classificação Internacional de Doenças por profissionais de saúde no Brasil
Coordenação
Profa. Dra. Maria Cristiane Barbosa Galvão (FMRP-USP)
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Introdução
As classificações possuem um lugar de grande importância para sistematização dos dados e informações. No campo da Saúde, um marco relevante para o uso de classificações foi a lista de causas de morte em Londres desenvolvida por Graunt no Século XVI. Deste embrião, surgiu a Classificação Internacional de Doença e Problemas Relacionados à Saúde (CID), desenvolvida e consolidada com o apoio de diversas instituições internacionais, entre as quais a Organização Mundial de Saúde. A CID é empregada no estabelecimento de diagnósticos, para representar a informação sobre doenças em prontuários de pacientes e sistemas de informação em saúde institucionais, regionais, nacionais e internacionais. Até o momento, a CID contou com onze revisões para sua atualização que expressam a evolução do conhecimento científico em Saúde, as mudanças sociais e culturais, mas também mudanças impostas pelos avanços tecnológicos. Tanto é assim que a CID-11, que vem sendo implantada nos países desde 2022, é totalmente desenvolvida para o uso em ambientes digitais de informação em saúde, evoluindo de uma classificação pré-coordenada para uma classificação pós-coordenada. A CID-11 teve a conclusão de sua tradução para a língua portuguesa em fevereiro de 2024, podendo as diferentes unidades de saúde iniciarem a transição da CID-10 para a CID-11.
Pela importância da CID, poder-se-ia imaginar que todos os profissionais de saúde a conhecem em profundidade e sabem usá-la. No entanto, alguns estudos anteriores de nosso grupo de pesquisa ponderam que existe um potencial desconhecimento em como usar a CID e em como aplicá-la no fazer clínico diário, fato que pode trazer várias implicações para a assistência do paciente, estatísticas de doenças, gestão da saúde e estabelecimentos de políticas públicas.
Assim, este estudo tem por objetivo fazer um mapeamento sobre os desafios para a implementação da CID-11, identificando barreiras e facilitadores de seu emprego que possam subsidiar ações para o melhor uso da CID-11 no território nacional.
Justificativa
A 11ª edição da Classificação Internacional de Doença e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11) foi adotada na Assembleia Mundial da Saúde em maio de 2019. Os Estados Membros se comprometeram a começar a usá-la para relatórios de mortalidade e morbidade em 2022. Logo, esse estudo evidenciará potenciais lacunas para que a CID-11 seja empregada em território nacional, bem como poderá subsidiar ações de instituições de saúde, ensino e pesquisa.
Destaca-se que, recentemente, o Brasil perdeu dois grandes especialistas em classificação do campo da saúde: o Prof. Dr. Ruy Laurenti (USP), especialista na Classificação Internacional de Doenças, falecido em 2016; e a Profa. Dra. Telma Ribeiro Garcia (UFPB) especialista na Classificação Internacional da Prática de Enfermagem, falecida em 2019. Este projeto contribuirá para o início de uma nova geração de estudos sobre classificação em saúde, dando continuidade ao protagonismo da USP em liderar pesquisas na área temática. Especialmente, a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, possuí cenários expressivos para o desenvolvimento de pesquisas em saúde, bem como integra o Complexo de Saúde, com 7 unidades hospitalares de nível terciário e secundário, e 11 unidades básicas de saúde, atendendo cerca de 1.7 milhões de pacientes, sendo uma grande usuária da CID.
Objetivos
Este estudo tem por objetivo principal mapear os desafios para a implementação da CID-11, identificando barreiras e facilitadores de seu emprego que possam subsidiar ações para o melhor uso da CID-11 no território nacional.
São objetivos específicos:
- Mapear se profissionais de saúde que atuam no SUS conhecem os navegadores da CID-10 e da CID-11 para consulta;
- Verificar se profissionais de saúde que atuam no SUS recebem treinamento continuo para uso da CID;
- Verificar se profissionais de saúde que atuam no SUS lêem as notas da CID-10 e CID-11 antes de atribuir um diagnóstico ao paciente.
Metodologia
Hipótese. Parte-se da hipótese de que os profissionais de saúde brasileiros usam a CID, mas de forma não reflexiva e carecendo de conhecimentos aprofundados para seu uso. Para testar essa hipótese, empregar-se-á uma abordagem de métodos mistos convergente (QUAN+QUAL), a partir de um instrumento para coleta de dados (Apêndice 1) contendo questões estruturadas e questão aberta complementares entre si sobre o conhecimento e uso da CID, suas barreiras e seus facilitadores.
Método. O método misto convergente (QUAN+QUAL) é aquele em as etapas quantitativas e qualitativas são concomitantes, ou seja, os métodos qualitativo e quantitativo documentam os mesmos fenômenos de forma complementar, ocorrendo a integração dos resultados durante a análise dos dados. Para o emprego deste método é importante destacar que os pesquisadores do presente estudo possuem experiência em pesquisa quantitativa, qualitativa e em métodos mistos (GALVAO; PLUYE, RICARTE, 2017).
Participantes. O estudo terá um caráter nacional considerando a população de 2.376.847 profissionais que atuam no Sistema Único de Saúde, com uma amostra de 1849 profissionais de saúde para alcançar 99% de nível de confiança e 3% de margem de erro.
Análise de dados. A plataforma para a coleta de dados quantitativos e qualitativos será o REDCap (Research Electronic Data Capture) e o software R será empregado para a análise estatística. Os dados qualitativos, proveniente da questão aberta, serão exportados para o software NVivo e analisados para verificar potenciais temas emergentes. Tais dados serão analisados por meio da análise temática reflexiva, de acordo com Braun e Clarke (2006). A análise temática reflexiva é considerada um método fundamental para a análise qualitativa, podendo ser aplicada em uma variedade de estruturas teóricas e paradigmas de pesquisa, relacionando-se intimamente com a questão de pesquisa (BRAUN; CLARKE, 2006; BRAUN et al., 2019). Assim, serão seguidas seis fases da análise temática: 1) familiarização com os dados; 2) geração de códigos iniciais; 3) busca de temas; 4) revisão de temas; 5) definição e nomeação de temas e 6) produção do relatório. A análise temática será realizada por duas pesquisadoras de forma isolada e, posteriormente, consolidada pelo grupo de pesquisadores que integraram a equipe da pesquisa (BRAUN et al., 2019).
Aspectos éticos. Para desenvolver o estudo, o projeto será submetido a um Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, conforme exigido pela legislação brasileira. Os participantes serão recrutados por meio de convite em plataformas digitais . Poderão participar do estudo, os profissionais que manifestarem o consentimento para participar do estudo. Serão incluídos no estudo profissionais que declararem atuar no Sistema Único de Saúde.
Riscos e benefícios. O participante não terá nenhum benefício direto ao participar desta pesquisa. O principal risco para participação no estudo são as emoções positivas ou negativas que o participante possa sentir durante o preenchimento do questionário, em decorrência de potenciais facilidades e dificuldades que tenha passado para usar a CID. Caso o participante tenha algum tipo de desconforto emocional, a pesquisadora estará disponível para conversar, por telefone ou email, até que o participante venha se sentir melhor. Para a garantia da privacidade, os dados serão armazenados em servidor institucional e permanecerão anonimizados. Como identificador único será empregado o CPF, não serão coletados outros dados de caráter pessoal que possam identificar os participantes.
Referências
BRAUN, V.; CLARKE, V. Using thematic analysis in psychology. Qualitative Research in Psychology, Oxon, v. 3, n. 2, p. 77–101, 2006. Disponível em: https://doi.org/10.1191/1478088706qp063oa. Acesso em: 5 jun. 2024.
BRAUN, V. et al. Answers to frequently asked questions about thematic analysis. Auckland: The University of Auckland, 2019. Disponível em: https://cdn.auckland.ac.nz/assets/psych/about/our-research/documents/Answers%20to%20frequently%20asked%20questions%20about%20thematic%20analysis%20April%202019.pdf. Acesso em: 5 jun. 2024.
GALVAO, M. C. B.; PLUYE, P.; RICARTE, I. L. M. Métodos de pesquisa mistos e revisões de literatura mistas: conceitos, construção e critérios de avaliação. InCID: Revista de Ciência da Informação e Documentação, [S. l.], v. 8, n. 2, p. 4-24, 2017. DOI: 10.11606/issn.2178-2075.v8i2p4-24. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/incid/article/view/121879. Acesso em: 4 jun. 2024.
Estudos anteriores
GALVAO, M.C.B. et al. Educação continuada sobre terminologias clínicas no contexto da saúde digital. BRAZILIAN JOURNAL OF INFORMATION SCIENCE, v. 17, p. e023061, 2024.
ANDRADE, E. A.; GALVÃO, M.C.B. Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11): de sua origem ao uso nos sistemas digitais. Ciência Saúde Coletiva, abril, 2024.
ANDRADE, E. A.; Galvão, Maria Cristiane Barbosa. Classificação internacional de doenças e problemas relacionados à saúde: estruturas, funcionalidades e usos no contexto clínico. In: Encontro Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação (ENANCIB), Aracaju, 2023.
GALVAO, M.C.B. et al.. (Org.). Terminologias clínicas, classificações, ontologias e vocabulários. 2ª ed. Goiânia: Cegraf UFG, 2023. 71p.
GALVÃO, M.C.B. Classificações, terminologias e ontologias no campo da saúde. Asklepion: Informação em Saúde, v. 1, p. 41-54, 2021.
GALVÃO, M.C.B.; RICARTE, I.L.M. A Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-11): características, inovações e desafios para implementação. Asklepion: Informação em Saúde, v. 1, p. 104-118, 2021.
GALVÃO, M.C.B. A leitura documentária e a indexação de documentos da área de saúde. In: Fujita, M. S. L. et al. (Org.). Modelos de leitura documentária para indexação. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2020, p. 173-193.
GALVÃO, M.C.B. Uso de linguagens de especialidade na prática profissional. In: Garcia, Telma Ribeiro (Org.). Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem CIPE®: versão 2019/2020. 1ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2020, p. 2-20.
GALVÃO, M.C.B.; RICARTE, I.L.M. Prontuário do paciente. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2012. 344p.
GALVÃO, M.C.B.; SILVA, J C.; FERREIRA, V.S.; ROCHA, J.E.S. Specialized languages used in patient records: implications for information organization and retrieval. In: 10th International Congress on Medical Librarianship, Brisbane: IFLA - The University of Queensland, 2009.
Últimas orientações
Evaldo Aguiar Andrade. A Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde e seus processos de construção. Mestrado em Ciência da Informação - Universidade Federal de São Carlos, 24 de novembro de 2023.
Daniel Vieira Kolisch e Sheila Lima Diógenes Santos. Implementação da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde em cenários nacionais: revisão sistemática da literatura. Aperfeiçoamento/Especialização em Saúde Digital - Universidade Federal de Goiás, 2023.
Financiamento
CNPQ Processo: 406079/2023-4
Programa Unificado de Bolsas USP
Certificado de Avaliação e Aprovação Ética: 83276824.0.0000.5440